Q: When thinking about the major value perception shift that’s characteristic of this new cooperative era we’re living in, we see that alongside the drastic political events that have taken place for the last 30 years, art and culture also seemed to play a big role. It’s been said that the biggest contribution of the “infrastructure counterculture movement” for instance, is not so much the equitable infrastructure, but on a more abstract level of matching people’s perception of “cool” with “fair”. Do you agree ?
A: So, about this “infrastructure counterculture” title, I’m not sure we endorse it and kind of wish it would go away. But yeah, I think our movement ushered some sort of shift. I mean, we were just so settled and defeated back then, in our complete lack of options outside of capitalism. You know, besides voting and having to wait for a political planetary governance of some kind to reverse inequality and guarantee earth’s ability to continue to sustain human life.
Nothing seemed worse than being stuck in this place, and even though we thought of ourselves as a community of independent artists that made art work (visual, sound, written, performed or what have you) that could carry some sort of possible alternative, or at least a feel of it, we saw that it didn’t really, I mean if it ever did. It was frequent that the most poetic or subversive of art objects and experiences (and we ourselves who were creating them) were continuously associated or financially dependent—directly or indirectly, voluntarily or not—with some type of billionaire clothing, beverage or media conglomerate, hedge funds, crooked collectors, big tech, dubious institutions or an overall advertising and financialized order of doing things.
We felt cornered and we decided that instead of making better art about it, we were going to try to make our own sponsors, patrons and institutions. So we thought, “How about we finally capture some of the upside of the economic contingencies we create?” It was just so evident that a lot of consumer goods became attractive, even in the mainstream, because of their relation to artistic subcultures. What we—musicians, writers, painters, designers, actors—used, wore, drank, even smoked, became what was appealing for a lot of people to spend money on, and a brand-new opportunity for a lot of companies to make money from.
And then artists hijacking this opportunity became somewhat of a trend. We started dividing ourselves, our time, interest and work, half in making the music, the visuals, and the attitude that shaped a culture, and the other half in learning, setting up and running the organizations that would make us own the products that materialized that same culture. We joked that instead of our art being made to function as business, we started doing business as art.
So we built the infrastructure to fabricate these things that people had confirmed they would not ever stop buying: shoes, beer, computers, clothes, cellphones, energy drinks, cigarettes, eyeglasses, weed, software, spaces, you name it. What made this “business as art”—and not as usual—was that all companies, and their subsequent federation, were conceptualized and measured as artworks. The criteria, we as a community, elected to do such evaluation related to how beautifully the companies implemented cooperative governance statutes, resolved systemic labor issues in their hierarchy, funded the art practices of their community, were financially accessible, reduced the amount of fossil fuel used and deployed technology elegantly to facilitate all these endeavors.
But getting back specifically to your question, the more unforeseen consequences of finally arriving at this place of being an economic force with stabilized livelihoods and practices free of greedy capital, was that we also kind of meddled with the way people identify themselves with the stuff they desire and spend money on. The products we make are the ones we associate with our culture and through that we’ve engraved in their aesthetic subjectivity a direct relation to the backstory of their fairly, equitable and community-centered manufacture. Because of this, now everyone seems to think they look more beautiful and taste better and are way more tolerant if they don’t have the maximum functionality of their corporate counterparts. This, in turn, made it un-stylish and vulgar to own and use expensive products from investor-owned monopolies with unethical labor and environmental practices. Nowadays kids only want the shoes from the artists/workers that seized the means of production, and through that are generating a cooperative economy, reducing its industry’s CO2 emissions and funding the artistic and labor class. So yeah, maybe cool and fair did get kind of mixed up in the process.
*this interview was edited for clarity
“Quando a indústria da arte se tornou a indústria do artista”, 2061, entrevista, página 9.
Pergunta: Ao pensarmos na era cooperativa que vivemos, podemos ver como a percepção de valor mudou radicalmente. Para além dos drásticos acontecimentos políticos que ocorreram nos últimos 30 anos, a arte e a cultura também tiveram um papel significativo nesse processo de mudança. Nesse sentido, já foi dito que a maior contribuição do “movimento de infraestrutura contracultural” não foram as infra-estruturas equitativas em si, e sim, em um nível mais abstrato, uma equiparação daquilo que as pessoas entendem como “cool” com aquilo que é “justo”. Você concorda ?
Resposta: Então, primeiramente, não somos muito fãs desse título de “infra-estrutura contracultural” e, na real, torcemos para que suma logo. Mas sim, acho que o nosso movimento trouxe algum tipo de mudança. Se paramos para lembrar, naquela época, nós estávamos super derrotados e já acostumados a não ter nenhum tipo de opção fora do capitalismo. Meio que o que tinha era votar e ter que esperar que algum tipo de governança política planetária resolvesse o problema da desigualdade e também garantisse que a vida humana na terra continuasse a ser possível.
Acho que não lembro de algo pior do que ficar preso neste lugar e assim, embora nos considerássemos uma comunidade de artistas independentes que produziam trabalhos (sonoro, visual, performático ou o que for) que teoricamente pudessem trazer ou representar algum tipo de alternativa possível à toda essa situação, ou pelo menos um feeling disso, na real, percebemos que não, tipo…se é que algum dia isso tenha sido possível.
Era super comum que mesmo os objetos e experiências artísticas mais poéticas ou subversivas (e nós que as criamos) estavam associados ou eram financeiramente dependentes —direta ou indiretamente, de modo voluntário ou meio que sem ter outra opção— com algum tipo de conglomerado bilionário de roupa, mídia ou bebida, big tech, hedge funds, instituições com financiamento super suspeito, todo tipo de colecionador corrupto e modos de trabalho e produção constantemente atravessados por publicidade e financeirização.
Nos sentíamos super encurralados nessa condição e decidimos que ao invés de só fazer arte que criticasse essa situação, nós íamos tentar criar nossos próprios patrocinadores, patronos e instituições. Então pensamos “E se a gente capturar um pouco do lucro das contingências econômicas que criamos?”. Tava na cara que muitos bens de consumo se tornavam atraentes, mesmo no mainstream, justamente por sua relação com alguma subcultura artística. Muita gente queria gastar dinheiro nos produtos que nós – artistas da música, do teatro, das artes plásticas, do design, da escrita– estávamos vestindo, bebendo e até mesmo fumando, e muitas empresas viam nisso uma oportunidade de negócio e lucro.
Então meio que entendemos que nós mesmos podíamos sequestrar essa oportunidade, para mobilizar os nossos interesses, saca? Foi aí que nos dividimos. Metade de nós, do nosso interesse, do nosso tempo, do nosso trabalho continuou voltado para fazer a música, as artes visuais e as atitudes que moldavam uma determinada cultura; e a outra metade foi para a aprender como montar e tocar as organizações que nos fariam donos dos produtos que materializaram a mesma cultura. A gente brincava que ao invés da nossa arte ser transformada em negócios, a gente criava negócios como arte.
Foi aí que construímos a infraestrutura para fabricar várias das coisas que as pessoas já tinham confirmado que não iriam parar de comprar: tênis, computador, roupa, celular, energético, cigarro, óculos, maconha, software, espaços, e o que mais você imaginar. O que a gente entendia que diferenciava o nosso “negócio como arte” de um negócio corporativo qualquer, era que todas as empresas, e sua subsequente federação, foram conceitualizadas e metrificadas enquanto trabalhos de arte.
Os critérios, que nós, como comunidade, elegemos para fazer tal avaliação eram relacionados à beleza com que as empresas implementaram estatutos de governança cooperativa, como resolveram questões trabalhistas sistêmicas em sua hierarquia, o quanto financiavam as práticas artísticas de sua comunidade, eram financeiramente acessíveis, reduziam a necessidade de uso de combustível fóssil e por último, como implantavam elegâncias tecnológicas para lidar com todos esses desafios.
Mas voltando aqui especificamente à sua pergunta, acho que as consequências mais imprevistas de agora sermos um força econômica com meios de subsistência estáveis e práticas livres de um capital super guloso, foi que também, de uma certa maneira, interferimos na maneira como as pessoas se identificam com as coisas que elas desejam e compram. Os produtos que fazemos são aqueles que associamos à nossa cultura e por meio disso gravamos na sua subjetividade estética uma relação direta com o contexto e a história de sua fabricação justa, equitativa e comunitária. É justamente por isso, que agora acham este tipo de produto mais bonito ou mais gostoso, e pelo mesmo motivo que há muito mais tolerância quando estes não têm a funcionalidade máxima de seus concorrentes corporativos. Ao mesmo tempo, esse processo também produziu uma certa noção de que comprar produtos caros feitos por empresas-monopólios com práticas ambientais e trabalhistas antiéticas é algo meio fora de moda e vulgar. A sensação é de que nos dias de hoje a garotada só quer o tênis dos artistas/trabalhadores que tomaram os meios de produção e com isso estão gerando uma economia cooperativa, reduzem a emissão de CO2 da sua indústria e estão des-precarizando a classe artística/trabalhadora. Então, meio que sim, talvez essas noções de “legal/cool” e “justo” se misturaram nesse processo.
* Essa entrevista foi levemente editada em busca de maior claridade.